Estrelinhas

sábado, 25 de julho de 2009

Decifre o Enigma dos Anjos - Campos de Raphael.

DECIFRE O ENIGMA DOS ANJOS

“Oh! Eu acredito que há anjos entre nós / Enviados de algum lugar do Alto. / Eles vêm a nós nas piores horas, / Para mostrar como viver, nos ensinar a dar, / E na Luz do Amor nos guiar’. (Becky Robbs. ‘A Voz de um Anjo’). [Cf. ‘Anjos: Os Misteriosos Mensageiros’, p. 91. Rex Hauck. Nova Era. 1996].

Albert Einstein, afirmou: “A experiência mais bonita que se pode ter é a do misterioso… Aquele para quem esta emoção é uma estranha, quem já não pode pausar para admirar e maravilhar-se, é como se estivesse morto”… Einstein, antes de expor o conceito da relatividade pela primeira vez, diante de uma cética platéia de cientistas racionalistas, contou uma parábola chinesa: “Era uma vez um cego de nascença. Nunca tinha visto o sol e perguntava como era este às pessoas que enxergavam. Alguém lhe disse: - ‘A forma do sol é como uma bandeja de latão’. O cego bateu na bandeja de latão e ouviu um som. Depois, quando ouviu o som de um sino, pensou que era o sol. Outra vez, disse-lhe alguém: - ‘A luz do sol é como a de uma vela’. E o cego apalpou a vela, e pensou que era a forma do sol. Depois apalpou uma (grande) chave e pensou que era o sol. O sol é muito diferente de um sino ou de uma chave, mas o cego não vê a diferença porque nunca viu o sol”... [Cf. ‘A Sabedoria da China’. Lin Yutang. Irmãos Pongetti. 1955].

Falar de anjos aos que nunca perceberam sua presença sutil e nem prestam atenção aos sinais angélicos no dia-a-dia, lembra a parábola da sabedoria chinesa. Mas, na verdade existem registros da presença angélica, desde a Antigüidade. Em Ur, cidade de mais de 4.000 anos, arqueologistas acharam gravado numa pedra um ser alado descendo do céu com um jarro transbordante de “água da vida”, para vertê-la na taça na mão de um rei. Em Ur, toda família tinha uma divindade pessoal e mantinha em suas casas uma pequena capela em honra de seus “anjos” ou espíritos guardiães, que também podiam tomar a forma humana – conta John Ronner. [Cf. ‘Você Tem um Anjo da Guarda’. Editora Siciliano. 1955].

A experiência da vida ensina a ficar atento às coincidências significativas e intuições repentinas, bem como aos sinais angélicos de ‘agentes espirituais’ (expressão junguiana); e busco compartilhar essas coisas quando elas ‘vêm’ a mim, segundo um compromisso: “Citarei a verdade onde a encontrar”...

Passeio diariamente com dois foxy-paulistinhas, pois o mais velho rejeita fazer suas necessidades dentro do apartamento, e quase sempre passamos por uma livraria ‘sebo’ das imediações, que expõe obras usadas na vitrine e revistas na porta; só entro quando procuro algum livro e raramente revistas usadas. Dias atrás ao passar por ali tive a intuição de olhar as revistas expostas na porta; em cima da pilha uma capa exibia dois anjos num portal e o título: “O Enigma dos Anjos”. Coincidentemente, eu fizera antes o relato pessoal: ‘ANJOS E ANIMAIS, SINAIS E COINCIDÊNCIAS’; e jamais esperaria ver o tema angélico abordado tão imparcial e objetivamente em ‘Globo Ciência’. O fato impeliu-me abrir este ‘portaldeanjos’ e divulgar o citado artigo, testemunhos e histórias reais que ajudam a desvendar o instigante mistério dos anjos...

"O ENIGMA DOS ANJOS" - 'Os Anjos Estão de Volta' - [Excertos de ‘Globo Ciência’. Fevereiro/1996]

Esquecidos por longo tempo, eles vêm para excitar a imaginação humana e fazer os cientistas repensarem a experiência religiosa. Eles estão nas páginas dos livros mais vendidos, nos palcos de teatro e nas telas de cinema, nas capas de revistas e nas letras das canções, nas mensagens publicitárias e nas convicções mais íntimas de milhões de pessoas. Depois de décadas de esquecimento, os anjos voltam ao imaginário da humanidade.

No Brasil, pesquisa realizada em 1992 pela agência Saldiva & Associados mostrou que 91% das pessoas acreditam no anjo da guarda. Nos Estados Unidos, a porcentagem é de 69%, conforme enquête da revista Time. Segundo dados da Câmara Brasileira do Livro, 45 obras sobre o assunto foram editadas no país, apenas em 1995. No cinema, junto com uma enxurrada de filmes medíocres, o tema já motivou ao menos duas obras de primeira grandeza: ‘Asas do Desejo’ e ‘Tão Longe, Tão Perto’, ambas do cineasta alemão Wim Wenders.

Estes exemplos são apenas uma pequena amostra do atual interesse pelos anjos. Ele não se expressa através de fenômenos isolados, mas compõe uma tendência de alcance planetário. Como se explica isso? Resposta escapista aos desafios de um mundo em crise? Renascimento do pensamento mágico alimentado pelo colapso das ideologias políticas? Ou o autêntico despertar da humanidade para a dimensão espiritual da existência? Qualquer que seja a razão, um tema instigante como esse não poderia deixar de estar presente nas páginas de GLOBO CIÊNCIA.

Claro que não é possível tentar provar cientificamente a existência ou inexistência dos anjos. Mas pode-se perfeitamente estudá-los com seriedade à luz de disciplinas como a ciência da religião. “A ciência da religião não visa confirmar ou desmentir a experiência religiosa. Procura, isto sim, enfocá-la a partir de vários ângulos, buscando compreendê-la de maneira ampla e multilateral”, afirma Enio Brito, professor de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. “Em sua dimensão simbólica, esse tipo de experiência (e aqui se encaixam os anjos) tem incidência direta na vida das pessoas e da sociedade. A compreensão do fenômeno religioso é, portanto, determinante para a própria compreensão do ser e do agir humanos”.

ELES ESTÃO EM TODAS AS RELIGIÕES
Dentro dessa perspectiva, pode-se dizer que a revitalização da figura angélica no imaginário humano é também o resgate de algumas das mais importantes experiências religiosas da humanidade. Referências aos anjos podem ser encontradas nos mais variados contextos culturais, e não apenas nas histórias infantis sobre o anjo da guarda, sempre alerta para livrar as criancinhas de todo mal. Essas referências são particularmente explícitas em religiões como o hinduísmo, o budismo, o zoroastrismo persa, as mitologias da Mesopotâmia, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, O tema interessou ainda aos filósofos. Para os neoplatônicos, corrente de pensadores que floresceu entre os séculos 2 d.C. e 4 d.C., os anjos, os homens, os animais, os vegetais e os minerais seriam, todos eles, apenas diferentes formas de manifestação da Divindade única.

“Nas tradições antigas, os anjos são concebidos principalmente como mensageiros entre o mundo celestial e o mundo terrestre”, explica o monge budista Ricardo Gonçalves, ex-professor de História das Religiões da Universidade de São Paulo. Mensageiro, aliás, é o que quer dizer a palavra grega ággelos, da qual o termo anjo se origina. O mesmo significado se expressa na denominação hebraica mal’akh e na árabe malak.

Mas qual é o teor das mensagens angélicas? Segundo escrituras sagradas produzidas em diferentes contextos culturais, essas mensagens não são recados quaisquer, mas revelações ou ordens divinas de importância decisiva na vida humana. Algumas delas constituem mesmo os momentos fundadores de várias tradições religiosas amplamente difundidas em todo o mundo, como o cristianismo e o islamismo, e de outras menos conhecidas, como o zoroastrismo, antiga religião dos persas, e o ismaelismo, que ainda conta com milhões de seguidores em vários países orientais.

No cristianismo, afirma-se que foi um mensageiro celestial que anunciou aos homens o nascimento de Cristo. Saudando a virgem Maria, o arcanjo Gabriel lhe disse: “Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo... e o seu reinado não terá fim”. Outra mensagem de Gabriel teria dado origem, seis séculos mais tarde, à religião islâmica. Neste caso, o anjo não anunciava o nascimento de um homem, mas de um livro. Segundo os muçulmanos, isso aconteceu no ano 611 d.C., quando Mohammed (Maomé) meditava numa caverna próxima à cidade de Meca, na Arábia. Naquele local solitário, apareceu-lhe o arcanjo, que ordenou: “Recita em nome de Allah (Deus)”. Era um chamado à missão profética e dessa recitação, ditada por Deus através de seu anjo, teria resultado o Corão [ou Alcorão], a bíblia dos muçulmanos.

DEUS CRIA O MUNDO AO RESPIRAR
Escolas místicas destas e de outras tradições ampliaram, porém, o significado da palavra “mensageiro”, chegando à idéia de que os anjos são veículos ou canais de toda ação divina. De acordo com tal concepção, cada ato de Deus passaria por uma extensa cadeia de transmissão angélica antes de alcançar nossa realidade imediata. Longe de ser demorado, o processo seria instantâneo, uma vez que o espaço e o tempo, as duas categorias básicas com as quais lida o pensamento científico, dizem respeito apenas ao mundo material.

Essa instantaneidade é particularmente realçada no hinduísmo que os mestres espirituais indianos preferem chamar de Sanatan Dharma, a Religião Eterna. Nessa tradição se afirma poeticamente que o cosmo inteiro é criado e aniquilado a cada respiração divina. Quando expira, Brahaman (Deus, como Absoluto) projeta o cosmo para fora de si. Quando inspira, ele o reabsorve em seu interior. Não seria possível sequer pronunciar o número das multidões angélicas envolvidas nessa operação instantânea e infinitamente recorrente. Ao serem gerados, os anjos se tomariam os canais que permitem à expiração divina prosseguir em sua expansão criadora. E, através deles, a criação retornaria ao Criador.

De acordo com o judaísmo, a partir do qual o cristianismo e o islamismo se desenvolveram, os anjos surgiram no segundo dia da Criação. O mundo angélico não se restringiria, porém, a esses entes antiqüíssimos, criados diretamente por Deus. Para esta tradição, existem também anjos recentes, criados pelo homem a cada ato bom que ele pratica. Estes acompanham e protegem permanentemente seus criadores humanos. “Tanto uns como outros são dotados de alma e corpo”, afirma o rabino Sammy Begun, diretor da Escola Lubavitch, de São Paulo. “Mas, diferentemente do corpo humano, formado a partir dos quatro princípios básicos, terra, água, ar e fogo, o corpo angélico deriva apenas do ar e do fogo”.

Essa dupla natureza, espiritual e corporal, também foi admitida pelos primeiros teólogos cristãos, os chamados Padres da Igreja. Santo Agostinho (354-430), o filósofo que marca a passagem da Antigüidade para a Idade Média, acreditava que fossem dotados de um corpo sutil. Porém, segundo a maior autoridade em angelologia da tradição cristã, o místico anônimo do século 5, que ficou conhecido na literatura filosófica como Pseudo-Dionísio Areopagita, anjos são entes puramente espirituais, desprovidos de qualquer corporeidade. Trata-se de inteligências puras e sem forma, “realidades simples, que em si mesmas não podemos conhecer nem contemplar”.

Ao lado do debate sobre a substância de que são constituídos os anjos, os Padres da Igreja se empenharam também numa longa e exaustiva discussão acerca de sua forma. As imagens empregadas pelas Escrituras para descrevê-las mostram desde homens alados, passando por figuras de múltiplas faces e feições animais, até seres em forma de rodas resplandecentes. Todas elas, porém, têm para Pseudo-Dionísio um sentido puramente simbólico. Lançar mão dessas imagens concretas e surpreendentes teria sido, segundo ele, a maneira encontrada pelos redatores das Escrituras para descrever o indescritível. E também um modo deliberado de ocultar às pessoas comuns informações que elas ainda não estariam prontas para receber.

A interpretação de Pseudo-Dionísio acabou dominando a angelologia cristã, mas deixa uma importante pergunta sem resposta: por que místicos de épocas posteriores, como Santa Hildegard de Bingen, São Francisco de Assis, Santa Teresa de Ávila, Emanuel Swedenborg e Rudolf Steiner, utilizam imagens tão semelhantes às das Escrituras para descrever seus supostos contatos com entes angélicos?

Uma resposta consistente será dada apenas cerca de 7 séculos depois de Pseudo-Dionísio, na obra de Ibn Árabi (1165-1240), o autor mais profundo do Islã, chamado pelos místicos de “o maior de todos os mestres”. Segundo Ibn Árabi, a verdade está no meio-termo: existe um nível de realidade mais sutil que o mundo físico, porém mais denso que o mundo espiritual. Assim como os homens, os anjos possuiriam uma essência espiritual. Porém, do mesmo modo que o corpo humano pertence ao mundo físico, as imagens angélicas percebidas nas experiências visionárias fariam parte desse estado intermediário entre a matéria e o espírito.

AQUELES QUE NÃO DORMEM NUNCA
Outro tema em que se empenharam os pensadores de diversas tradições é o da classificação dos anjos. Maimônides (1135-1204), o maior representante da filosofia medieval judaica, dividiu-os em dez grupos sucessivos: Chayot, Ofanim, Arelim, Chashmalin, Serafim, Malachim, Elokim, Bene Elokim, Kerubim e Ishim. Alguns desses nomes, ou seus equivalentes gregos, também aparecem no cristianismo, em especial no livro ‘A Hierarquia Celeste’, de Pseudo-Dionísio. Lá, ele apresenta a classificação em geral ainda aceita hoje, que fala em nove categorias angélicas, agrupadas em três conjuntos de três: serafins, querubins (ao lado) e tronos; dominações, virtudes e potestades; principados, arcanjos e anjos [Veja quadro, noutro texto: ‘A Hierarquia Celeste’].

Segundo Pseudo-Dionísio, as categorias inferiores aprendem das superiores tudo que diz respeito às operações divinas, enquanto que estas são iniciados nesse conhecimento pelas “luzes da própria Divindade”. A tríade mais alta é constituída pelos serafins, querubins e tronos. Nas palavras do filósofo, essa ordem situa-se “no vestíbulo mesmo da Divindade, circunda Deus de maneira permanente e está unida a ele sem nenhuma mediação”. Recebendo de primeira mão a efusão divina, ela a transmite à tríade seguinte, formada pelas dominações, virtudes e potestades. E através dessa ordem média que o poder de Deus se exerce com firmeza e seus dons se derramam sobre toda a criação. Por meio dela, o influxo divino atinge a última tríade, antes de ser finalmente comunicado ao mundo material. Mais próximas da natureza e dos homens, as classes dessa derradeira ordem são os principados, arcanjos e anjos (no sentido estrito da palavra).

A crença no anjo da guarda, isto é, de que todo homem é assistido por um anjo particular, que sempre o acompanha, apareceu pela primeira vez no judaísmo da época de Jesus, mas foi extremamente difundida também no cristianismo e no islamismo. Diz o Corão [ou Alcorão], livro máximo dos muçulmanos, que “para cada alma existe um guardião”. Por sua função, os anjos da guarda foram descritos como “aqueles que não dormem nunca”. São Tomás de Aquino (1225-1274), o principal nome da filosofia escolástica (medieval) cristã, afirmou que o homem não pode interferir nos planos de seu anjo da guarda.

Apesar da advertência, a fé popular banalizou a figura desses seres alados, transformando-os numa espécie de serviçais sempre à disposição das menores necessidades e caprichos humanos. Nem por isso, porém, a idéia do anjo da guarda é incompatível com uma abordagem mais sofisticada das tradições espirituais. Participando da última classe angélica, esses companheiros invisíveis seriam responsáveis pela transmissão do influxo divino a cada indivíduo da espécie humana- Uma deliciosa anedota afirma que, quando o bebê vem ao mundo, o anjo da guarda coloca o dedo sobre sua boca e lhe diz: “Esqueça tudo o que você sabe”, referindo-se a toda a sua experiência espiritual anterior. Daí viria a marca divisória que todos nós temos acima do lábio superior.

Mais do que a substância, a forma e a hierarquia, porém, são os nomes individuais dos anjos e suas respectivas funções que provocam enorme curiosidade hoje em dia. “Essa onda atual, mágica e desvinculada das revelações autênticas, busca descobrir o nome do anjo quase como uma forma de escravizá-lo”, denuncia o teólogo cristão Edmundo Pellizari, professor de Angelologia na Associação Palas Athena, um centro de cultura esotérica de São Paulo. Sabendo o nome do anjo, o homem pensa poder obter os seus serviços. “Mas todos esses rituais mágicos em nada influenciam o mundo angélico. A ação dos anjos se dá em sentido descendente e não ascendente: de Deus para o homem e não do homem para Deus”, sublinha o teólogo.

As tradições espirituais autênticas são, na verdade, extremamente parcimoniosas em relação aos traços individuais dos anjos. São bem poucos os casos em que registram seus nomes, lhes atribuem frases ou os mostram agindo no curso dos acontecimentos terrestres. E, quando isso ocorre, não se trata de anjos comuns. Embora chamados genericamente de arcanjos, eles desfrutam de um status tão alto quanto o dos serafins, situando-se no topo da hierarquia celeste.

No Antigo Testamento, o Livro de Tobias, fala dos “sete anjos que estão sempre presentes e têm acesso junto à glória do Senhor”. As religiões oficiais, porém, sempre viram no culto a esses príncipes angélicos uma perigosa porta para o politeísmo. “No catolicismo, a afirmação do primado de Cristo nunca permitiu que se desse muita ênfase aos anjos”, explica o monge católico Francisco Benjamim de Souza Neto, professor de Filosofia Medieval da Universidade de Campinas.

Dos sete arcanjos, os textos canônicos nomeiam apenas três: Miguel, Gabriel e Rafael (veja quadro). Sua magnificência pode ser imaginada a partir da descrição que Mohammed oferece de Gabriel: “De repente”, diz o profeta, “Gabriel, o Arcanjo, desceu a mim em sua própria forma, de tal beleza, tal glória sagrada, tal majestade, que todo o meu quarto ficou iluminado. Ele é de uma alvura mais brilhante do que a da neve; sua face é gloriosamente bela; as ondas de seus cabelos caem em longas tranças; sua testa é circundada por um diadema de luz, no qual está escrito ‘Não há outro deus além de Deus’. Ele tem 600 asas cravejadas com 70 mil gemas de crisólito vermelho”.

Contatos diretos com outros anjos são mencionados, no entanto, por místicos de diferentes épocas e tradições. Santa Teresa de Ávila (1515-1592), a grande religiosa espanhola, descreve com palavras apaixonadas o anjo que contemplou em êxtase: “Não era alto, mas de baixa estatura. E muito belo. Seu rosto, tão inflamado que parecia pertencer à categoria mais elevada dos anjos, aqueles que parecem estar ardendo. Em suas mãos, vi uma longa lança de ouro, em cuja extremidade parecia haver urna ponta de fogo. Com ela pareceu atravessar-me várias vezes o coração”.

Contudo, por mais maravilhosas que sejam as descrições dos anjos, as tradições são unânimes em reconhecer a superioridade dos homens [sic]. A explicação dessa afirmação surpreendente pode ser encontrada, por exemplo, em Ibn Árabi. Diz o mestre sufi que, devido à sua natureza imaterial, os anjos são mais estáveis que os homens, mantendo, com facilidade, a atenção focalizada em Deus. Já os homens, assediados pelas demandas do mundo material, se esquecem freqüentemente de sua origem divina e só a custa de muito esforço conseguem focalizar a atenção no Criador. Mas é justamente essa necessidade de escolha entre a matéria e o espírito, esse esforço reiterado para religar-se ao Todo que daria ao homem a possibilidade de uma evolução permanente e ilimitada.

A partir de reflexões como esta se compreende a fala que os anjos Cassiel e Rafaela dirigem aos homens no filme ‘Tão Longe, Tão Perto’, de Wim Wenders: “Somos os mensageiros que aproximam os que estão distantes. Não somos a Mensagem. Somos os mensageiros. A Mensagem é o Amor. Nada somos. Vocês são tudo para nós”. • (Artigo de José Tadeu Arantes). [Cf. ‘Globo Ciência’, p. 23/29. Fevereiro. 1996].

Clic e veja também: ‘ANJOS E ANIMAIS, SINAIS E COINCIDÊNCIAS’ - (Campos de Raphael) [®].